14 setembro, 2010

Pela igualdade de tratamento midiático


A questão que levanto aqui não é o lado político, mas o antiprofissionalismo com que alguns setores da mídia vêm tratando a candidata Dilma Rousseff. Duas coisas me impeliram a abordar este assunto: primeiro, que sou mulher, e segundo, não suporto injustiça.
Mas o que vem a ser isso que eu assisti na Rede Globo e no SBT? Nomes consagrados como Willian Bonner e Carlos Nascimento caindo na misoginia e machismo explícitos, em programas que pretendem chamar de entrevista ? Interrogatório seria mais apropriado.
Não bastasse o tom inamistoso das perguntas, o global parecia querer avançar na petista. Mais um pouco e abocanha sua jugular.
Um Bonner exatamente inverso, verdadeiro fidalgo, foi o que se apresentou diante do candidato tucano, a ponto de a entrevista ficar conhecida como "me perdoe". Seu ex-colega e hoje empregado do homem do Baú, Carlos Nascimento, não deixou por menos. Abriu a sessão "pancadaria nas Lulus" com uma delicadeza de king kong, mencionando as transformações físicas na imagem de Dilma (que, diga-se de passagem, tiveram um resultado pra lá de ótimo. A ministra ficou muito mais bonita e radiante, sem qualquer sinal de plástica. Ainda vou descobrir a receita, ah, se vou!).
Como sempre fui chegada num duelo mental, poucas performances de políticos deixei de ver na telinha. Faço isso desde época em que a seara era mais fértil, podia-se varar a madrugada assistindo programas como o do Ferreira Neto e o Jogo de Cartas, do Mino. A política não ficava restrita aos telejornais, a mesclar notícias com convidados - e essa mistura não foi legal.
Pois do muito que assisti, só um apresentador foi inconveniente: o Ney Gonçalves Dias, querendo arrancar de Quércia a confissão de que pintava os cabelos (ele negava, óbvio, e Ney insistia). Até telespectadores da "mão contrária", críticos do quercismo, desaprovaram a grosseria. Maus modos ninguém aprecia.
Entrando na campanha do dia, também não tenho notícia de que algum "jornalista" tenha indagado a José Serra sobre a flagrante intervenção cirúrgica nas gengivas e "cositas mas" - não falo pra não incorrer em descortesias do mesmo tipo. E também porque, sejamos justos, a aparência ou gesto pouco asseado quase nada interfere no âmbito político.
Tanto bateram que conseguiram tirar da candidata pole position o rótulo de "Lula de chicote", a ministra-chefe da Casa Civil cuja exigência já fizera até ministro chorar (cá pra nós, conversa de inimigo. Homem nenhum é sensível a esse ponto).
Dilma Rousseff virou vítima, e não sem razão. Alvo de ataques virulentos diante das câmeras, ela suportou heroicamente, mostrando-se bem-educada, esbanjando civilidade. Firme, mas dentro da polidez. A história de vida de Dilma, além de ter sido mantida presa quase o dobro do tempo determinado, inclui períodos de tortura durante o regime de exceção - e ela nem chegou a participar de luta armada. Alguns ex-guerrilheiros homens, que assaltaram e sequestraram, nunca enfrentaram os rigores militares, porque conseguiram escafeder-se para o exílio numa "nice". Só retornaram ao País na condição de anistiados - livres, leves e soltos. Entretanto, não abrem mão do díscurso "vítimas da ditadura".
Dilma não. Essa mulher guerreira não faz uso de seu passado para angariar aprovação, recusa o papel de eterna coitada. E em lugar de reconhecerem sua grandeza, os midiáticos submetem-na mais uma vez à tortura. Desta feita, de ordem moral e em "praça pública".
Não gostei. E muita gente também não. Mulheres com dignidade, mais ainda.
Se eu já não tivesse dilmado - decisão tomada depois de garimpar à exaustão o currículo dos candidatos - minha adesão teria sido imediata, ao ver os "machos selvagens" do telejornalismo em cena.
Faz isso não, seu Bonner. O senhor também, seu Nascimento. Idem para os demais coleguinhas que andaram formulando as mesmas indelicadas perguntas à "Senhora D" (Senhora Democracia, segundo dona Lily Marinho em almoço exclusivo oferecido à petista ). Esses foram frustados na tentativa de nocautear a indicada de Lula, Dilma faltou ao "debate". (ficaram na vontade, bem feito!).
Respeitem as Lulus, ajam como respeitáveis Bolinhas. A gente não quer tratamento privilegiado, se prevalecer de que é considerada sexo frágil, nada disso.
Quer apenas que nossas representantes, candidatas a cargos políticos, sejam tratadas com a mesma urbanidade que dispensam aos cavalheiros.
É pedir muito?

4 comentários:

  1. Olá Geysa!

    Acho que em breve você voltará a "jornalizar oficialmente".

    A mídia esta perdendo, e muito, as crônicas e opiniões dessa miltura de Luluzinha com Senhora D.

    O Brasil vai mudar nuito de pois de termos a 1ª presidenta, inclusive você. E você vai mudar para melhor!

    Parabéns,

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  2. Aniga Geysa:

    Entre em contato comigo:


    gilbertodea@uol.com.br



    Preciso falar com você.

    GIBA

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  3. a dilma merece ganhar,
    bando de povo machista sem consentimento e de vida alheia ¬¬
    parabéns pelo blog madrinha ;D
    falo bonito

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  4. Natalie querida:

    Bem-vinda ao Clube da Lulu! Os bolinhas que se acostumem com a ideia de caminhar ao nosso lado, não à nossa frente.

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