16 dezembro, 2010

A notícia que eu não gostaria de ler


Fábio Assunção foi meu colega no 1o ano de Jornalismo noturno na FIAM, em São Paulo.
Ele, calouro com idade certa, 18 anos. Eu, exatamente o dobro (a "tia" que resolveu voltar ao banco universitário). Entre nós, apenas três colegas com idades mais próximas da minha.
A sexta-feira era sagrada. Após as aulas, nossa turma se reunia num barzinho ou restaurante. Muita picanha, muita manguaça e só alegria!
Fábio sempre se distinguiu por sua loirice e azul da cor do mar nos belos olhos, boa educação e meiguice. Aluno interessado, nunca me esqueci de uma prova de filosofia em que nos sentamos lado a lado e ambos tiramos a nota máxima - sem colar. Fábio seguiu uma linha meio transcendental, e eu, sempre pé-no-chão.
O louraço, que já fazia as primeiras tentativas na área artística, causou frisson numa apresentação teatral em classe interpretando Adão e "vestindo" apenas uma folha de parreira.
Sabia que ele, assim como grande parte dos estudantes, apreciava um "baseado", mas creditei a uma tendência própria da juventude. Botava fé que, com a chegada da maturidade, Fabinho fosse deixar de lado essa erva proibida e cheiro desagradável.
Fábio não concluiu o ano, deixou a faculdade para fincar pé na profissão de ator. Rapidinho, estreava na Globo.
Deliramos! Nosso colega de família quase pobre, do redorzão de São Paulo, chegava meteoricamente à TV líder do País. Alçado pela garra e talento, sem precisar de Q.I. (quem indica). Claro que a "estampa" ajudou.
Quando engatou romance com Cristiana Oliveira, tratei de dar uma "cotovelada" na colega por quem Fabinho era apaixonado. A danadinha se amassava com ele num dia, no outro o esnobava para voltar aos braços de outro ficante, mais velho e bem de vida.
"Vai lá agora, vê se consegue tomá-lo da Cristiana", provoquei a moça de sobrancelhas estilo taturana, mais espessas que as da Malu Mader.
Seguiu-se uma carreira gloriosa, interrompida para tratamento de drogas.
Uma vez e agora outra. Cenas já rodadas, Fábio seria o galã da próxima novela das 9.
Não deu conta.
E me deixou triste. Pensei que Fábio Assunção fosse mais forte.

08 dezembro, 2010

Nassif: além do brilho profissional, música na recepção aos blogueiros


Não cheguei a tempo, mas quem foi, adorou.
Luís Nassif e sua banda de chorinho se encarregaram das boas-vindas aos participantes do I Encontro de Blogueiros Progressistas.
O guru da Economia é aficcionado pela música popular brasileira. Com ele tem choro - e sem vela.
Aproveito o espaço pra registrar um desagradável episódio ocorrido no final do ano. Feministas se melindraram com um comentário publicado no blog do Nassif, utilizando o termo "feminazi". Ele se desculpou, explicou o óbvio - que seu tempo é corrido, as obrigações múltiplas, e deslizes podem ocorrer.
Achei desnecessário. Me lembrei de um programa do Flávio Cavalcanti na década de 70 ("Um instante, maestro!), que rodou uma música ho-rro-ro-sa e, pra surpresa de toda a nação, autoria de mestre Chico Buarque.
Os jurados caíram de pau. Quando chegou a vez de Sérgio Bittencourt (o compositor-cantor de "Naquela Mesa", homenagem ao pai, Jacó do Bandolim), vejam só o que ele falou:
"Tive uma namorada maravilhosa. Bonita, inteligente, agradável, companheirona, tinha todas as qualidades.
Até que um dia ela me traiu - e eu nem consegui ficar com raiva. Tinha me dado tanto que eu não me senti no direito de achar ruim. Quem sou eu para criticar Chico ?".
Pô, Luís Nassif é o Chico Buarque do jornalismo político-progressista.
Preciso dizer mais?

O Conversa Afiada no Encontro













Paulo Henrique Amorim, o "ordinário blogueiro" ( se autoproclama) do Conversa Afiada.
Na opinião do Palpitando, faltou o prefixo "extra.
Tão extraordinário que já conseguiu levar o Domingo Espetacular, da Record, à liderança de audiência.
A bonita e simpática Geórgia Pinheiro é a diretora do site, a foto fico devendo.

À esquerda de Amorim, a careca corajosa do "Tijoladas do Mosquito", Amílton.

1o Encontro de Blogueiros Progressistas

Foi em Sampa, em agosto último.
Tô atrasada, mas explico: fiquei sem graça de postar fotos amadoras, diante das poderosas divulgadas pelos blogs profissionais.
Tenho consciência da minha pequenez.
Participei do Encontro mas nem blogueira me considero, sequer aspirante. Meu negócio é jornal impresso.
Na internet faço lazer e exercito a mente pra não ficar caquética, apenas isso.

Na foto, Luiz Carlos Azenha e Conceição Lemes, do Vi o Mundo, um dos patrocinadores do inédito evento. Ele, o jornalista das reportagens internacionais da TV Record que leva a gente a ver o mundo com a lente da Verdade.
Conceição, além da seção "Saúde da mulher", faz "cirurgia geral" e dá vida ao site, não deixa ninguém sem resposta. Não raro, bota água na fervura entre os comentaristas.
O grandão e a baixinha, uma parceria de sucesso. A diferença é só na altura.

02 dezembro, 2010

Perdeu, promotor de brinquinho!


Você pode duvidar, mas a foto não foi trocada. É mesmo do promotor que estava na cola do Tiririca, a ponto de o insuspeito Boris Casoy dizer no Jornal da Noite da Band que se tratava de "perseguição pessoal".
O mauricião bem que se esforçou pra botar argola no deputado federal mais votado do Brasil, pediu até sua prisão - mas teve que se contentar com a argola que exibe em uma das orelhas. Tiririca foi considerado suficientemente alfabetizado pela Justiça Eleitoral, vai assumir o cargo para o qual foi eleito e a gente fica "abestada" de contente.
Não entendo como o mesmo promotor que acha que um (suposto) analfabeto não pode ter voz na Câmara, se permite usar um penduricalho que fica bem em tribos indígenas de verdade ou de novinhos/descolados e luluzinhas. Nos mais velhinhos é "palhaçada".
Argolinha não, promotor!

18 novembro, 2010

Lula e a foto que ninguém viu


Corina Edelvina Bento, ex-moradora de favela carioca e beneficiária do programa Minha casa, Minha vida, chora e balança as chaves, enquanto é beijada pelo presidente Lula.
Esta foto (feita por Felipe Dana, da AP, em 25 de outubro último) não foi publicada em nenhum dos grandes jornais brasileiros, embora tenha sido destaque no conservador Wall Street Journal, do país de Obama.
O Palpitando foi buscá-la no Cloaca News, que informa ter sido "expropriada" do Diário Gauche.


12 novembro, 2010

Por que palhaço e não humorista?

Se a eleição fosse hoje, Tiririca teria de acrescentar meu voto à sua estrondosa bagagem eleitoral. Ativista da causa animal - notadamente "cachorreira" - vibrei com a notícia de que o "palhaço" promete dar força à adoção dos bichinhos.
Melhor um analfabeto sensível que um letrado desalmado. Nem tão analfabeto assim, pois segundo a midia - muito a contragosto, imagino - Tiririca foi aprovado no teste do TRE.
O promotor do caso (paulista, claro!), empenhado em sua cassação, pede que o campeão de votos faça novo teste. Faria melhor o MPE se estendesse seu rigor "idiomático" a todos os candidatos.
Nesse Brasil de tantos tiriricas e São Paulo de tantos caipiras, será que só o Everardo merece ser investigado?
Ora bolas, conheci pessoas sem instrução formal que dão um baile de sabedoria nos intelectualoides pedantes. Entre elas, uma bem-sucedida empresária do setor de transportes turísticos. De inteligência notável e sinceridade idem, fazia questão de contar que era inteiramente analfabeta - e mostrava o dedo, pra deixar bem clara a assinatura digital.
Fazendo coro com o MPE, segue a imprensa. Por que taxar o deputado eleito de palhaço, se ele não trabalha em circo e nem o nariz característico exibe?
Tirica é um humorista - ou comediante - assim como Jô Soares, Chico Anísio, Heloísa Perissê, Ingrid Guimarães, Tom Cavalcanti e todos da categoria. Você viu algum deles ser chamado de palhaço pela mídia? Não, né? Nem eu.
Fosse da chapa de lá, Francisco Everardo Oliveira da Silva, o Tiririca, já teria virado "nobre deputado". Como optou pela candidatura popular, chamam-no de palhaço.
Tanta insistência em dar conotação pejorativa ao humorista nordestino indica que o circo está montado e hoje tem marmelada, tem sim senhor!
Mas a palhaçada, desta vez, não é o Tiririca quem faz.

05 novembro, 2010

Dilma Rousseff, a 40a. presidente do Brasil

A peleja foi dura, o jogo rasteiro - calúnias, difamações, adulterações e simulações abundaram nesta campanha.
Mas nem a "bolinha tontífera", puro papel e surpreendentes 2 k, impediu que uma Lulu arrebatasse o cartão de acesso à rampa do Planalto em 1o de janeiro de 2011.
Parabéns, presidente!
Ah, desculpe, Presidenta.
É assim que prefere, assim será chamada.

*Mãe de Dilma diz que filha sempre se preocupou com os pobres

A esperança de um Brasil menos desigual aumenta ao ouvir a professora Dilma Jane contar que a preocupação maior da filha foi sempre com os mais pobres. O vídeo da entrevista à TV Brasil está no youtube.
Não à toa, a Presidenta ratificou, em seu discurso de vitória, o compromisso de erradicação da miséria.
Não posso deixar de registrar a classe, sabedoria (mineira, uai) e jovialidade de Dilma mãe, 86 anos. Mas o visual é de 70.
Mulheres fortes, as Rousseff.
Do jeito que a gente gosta e da forma como o Brasil precisa.

Foto do Cloaca News, blog-show de irreverência

07 outubro, 2010

Não é Pilatos, mas parece


Não votei na Marina Silva e nem cogitei a hipótese. Não pela candidata, é que o verdinho paulista resulta da mistura do azul com amarelo. Que Marina é valorosa, é. Mulher pra chegar à cúpula política, neste Brasilzão machista, tem que ser "homem de saia".
De frágil, na senadora, só a aparência.
A mídia relata que ela é evangélica mas nem seria preciso, os longos cabelos amarrados em coque são um indicativo quase tão óbvio quanto a burca para as muçulmanas.
Daí que, durante a campanha em que não chegou à final mas teve um desempenho louvável, Marina Silva prometeu levar a plebiscito a descriminalização das drogas e o aborto.
Peraê: esse tal de plebiscito não foi a mesma saída encontrada por Pôncio Pilatos, quando lavou as mãos e entregou Cristo ao julgamento popular? O resultado a gente já sabe.
Quer dizer que Marina Silva não é contra o aborto, desde que a decisão seja da maioria.
Democrática, sem dúvida. Mas conflitante com os preceitos evangélicos.
Ou eu sou mesmo contra o aborto, ainda que o mundo todo tenha aderido a ele, ou sou a favor.
O raciocínio é simples: Marina, como evangélica, acha que aborto é crime contra a vida. Abortar é matar.
Mas como política, se a população decidir que o aborto é "moralmente sustentável", o mesmo crime passa a ser aceitável e legalizável?
Não dá pra entender porque só a favorita das urnas, Dilma Rousseff, tem sido tão perseguida por "deduzirem" que ela seria favorável ao aborto.
Dedução igual se pode fazer em relação à ambientalista.

Des-Educação paulista

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21 setembro, 2010

Faz de conta que eu não bebo

Em entrevista à CNT, José Serra (PSDB) mostrou toda sua vocação democrática e respeito profundo à liberdade de imprensa. Melindrado com certas perguntas da jornalista Márcia Peltier, botou a Dilma no meio da conversa (novidade!), mandando que dirigissem as mesmas perguntas a ela (ouviu que assim seria feito). Por fim, comunicou que não iria mais dar entrevista. Com a habitual elegância, Peltier fez ver ao presidenciável que não teria como explicar o cancelamento da entrevista, ao que Serra respondeu: "Faz de conta que não vim".
A jornalista chegou a desligar as luzes e continuou tentando domar o "touro" bravio. Missão cumprida e câmeras religadas, a equipe da CNT pode concluir o trabalho com o candidato que "dá trabalho".
Serra evita passar ao público a imagem de pessoa comum. Uísque ele não toma, nem do Paraguai nem qualquer outro, disse para Sabrina Sato, do Pânico. E escolheu depressinha o guaraná, ao ser indagado sobre sua bebida preferida.
Eu já tinha deduzido que álcool, pro Serra, nem em dia de Palmeiras campeão. Além de antitabagista furioso, abstêmio radical, pensei .
Mas um chopinho em Rio Preto, após a campanha, ele não rejeitou. Certamente pra não ser chamado (por trás, lógico, que ninguém é kamikase) de chato ou desmancha-roda.
Agora, cá pra nois: ele parece estar à vontade, não leva jeito de marinheiro de primeira viagem.
O interessante é que foi só a Dilma aparecer de pé engessado e explicar que sofreu uma torcedura ao fazer esteira, a grande imprensa já tascou que teria sido decorrência de um vinho tomado na companhia de amigos. Traduzindo: Dilma bebe a ponto de cair. Na linguagem da Hebe, Dilma é da "manguaça".
O intrigante é que já vi no Tijolaço, o saboroso site do deputado Brizola Neto, foto reproduzida de O Globo mostrando o Serra amparado por correligonários, ao subir uma escada rolante. E com o semblante daquele jeito que, no popular, é descrito como "cara de ressaca". Mas não consegui achar, nem nas entrelinhas da grande imprensa, uma só mensagem de que José Serra possa ter exagerado no chope.
Ah, que perda de tempo a minha, ficar tentando descobrir o porquê. Zé Serra "hipnotiza" os poderes que, por salário ou prestação de serviços, se "comunicam" com o governo paulista.
O homem-tucano não é mesmo, uma pessoa comum.
É alguém com extraordinários poderes.

14 setembro, 2010

Pela igualdade de tratamento midiático


A questão que levanto aqui não é o lado político, mas o antiprofissionalismo com que alguns setores da mídia vêm tratando a candidata Dilma Rousseff. Duas coisas me impeliram a abordar este assunto: primeiro, que sou mulher, e segundo, não suporto injustiça.
Mas o que vem a ser isso que eu assisti na Rede Globo e no SBT? Nomes consagrados como Willian Bonner e Carlos Nascimento caindo na misoginia e machismo explícitos, em programas que pretendem chamar de entrevista ? Interrogatório seria mais apropriado.
Não bastasse o tom inamistoso das perguntas, o global parecia querer avançar na petista. Mais um pouco e abocanha sua jugular.
Um Bonner exatamente inverso, verdadeiro fidalgo, foi o que se apresentou diante do candidato tucano, a ponto de a entrevista ficar conhecida como "me perdoe". Seu ex-colega e hoje empregado do homem do Baú, Carlos Nascimento, não deixou por menos. Abriu a sessão "pancadaria nas Lulus" com uma delicadeza de king kong, mencionando as transformações físicas na imagem de Dilma (que, diga-se de passagem, tiveram um resultado pra lá de ótimo. A ministra ficou muito mais bonita e radiante, sem qualquer sinal de plástica. Ainda vou descobrir a receita, ah, se vou!).
Como sempre fui chegada num duelo mental, poucas performances de políticos deixei de ver na telinha. Faço isso desde época em que a seara era mais fértil, podia-se varar a madrugada assistindo programas como o do Ferreira Neto e o Jogo de Cartas, do Mino. A política não ficava restrita aos telejornais, a mesclar notícias com convidados - e essa mistura não foi legal.
Pois do muito que assisti, só um apresentador foi inconveniente: o Ney Gonçalves Dias, querendo arrancar de Quércia a confissão de que pintava os cabelos (ele negava, óbvio, e Ney insistia). Até telespectadores da "mão contrária", críticos do quercismo, desaprovaram a grosseria. Maus modos ninguém aprecia.
Entrando na campanha do dia, também não tenho notícia de que algum "jornalista" tenha indagado a José Serra sobre a flagrante intervenção cirúrgica nas gengivas e "cositas mas" - não falo pra não incorrer em descortesias do mesmo tipo. E também porque, sejamos justos, a aparência ou gesto pouco asseado quase nada interfere no âmbito político.
Tanto bateram que conseguiram tirar da candidata pole position o rótulo de "Lula de chicote", a ministra-chefe da Casa Civil cuja exigência já fizera até ministro chorar (cá pra nós, conversa de inimigo. Homem nenhum é sensível a esse ponto).
Dilma Rousseff virou vítima, e não sem razão. Alvo de ataques virulentos diante das câmeras, ela suportou heroicamente, mostrando-se bem-educada, esbanjando civilidade. Firme, mas dentro da polidez. A história de vida de Dilma, além de ter sido mantida presa quase o dobro do tempo determinado, inclui períodos de tortura durante o regime de exceção - e ela nem chegou a participar de luta armada. Alguns ex-guerrilheiros homens, que assaltaram e sequestraram, nunca enfrentaram os rigores militares, porque conseguiram escafeder-se para o exílio numa "nice". Só retornaram ao País na condição de anistiados - livres, leves e soltos. Entretanto, não abrem mão do díscurso "vítimas da ditadura".
Dilma não. Essa mulher guerreira não faz uso de seu passado para angariar aprovação, recusa o papel de eterna coitada. E em lugar de reconhecerem sua grandeza, os midiáticos submetem-na mais uma vez à tortura. Desta feita, de ordem moral e em "praça pública".
Não gostei. E muita gente também não. Mulheres com dignidade, mais ainda.
Se eu já não tivesse dilmado - decisão tomada depois de garimpar à exaustão o currículo dos candidatos - minha adesão teria sido imediata, ao ver os "machos selvagens" do telejornalismo em cena.
Faz isso não, seu Bonner. O senhor também, seu Nascimento. Idem para os demais coleguinhas que andaram formulando as mesmas indelicadas perguntas à "Senhora D" (Senhora Democracia, segundo dona Lily Marinho em almoço exclusivo oferecido à petista ). Esses foram frustados na tentativa de nocautear a indicada de Lula, Dilma faltou ao "debate". (ficaram na vontade, bem feito!).
Respeitem as Lulus, ajam como respeitáveis Bolinhas. A gente não quer tratamento privilegiado, se prevalecer de que é considerada sexo frágil, nada disso.
Quer apenas que nossas representantes, candidatas a cargos políticos, sejam tratadas com a mesma urbanidade que dispensam aos cavalheiros.
É pedir muito?

06 setembro, 2010

Sou mais Brasil


Duas notícias de hoje indicam que o império global tá bambeando na liderança: ontem foi o primeiro domingo em que a Record ocupou a pole position o dia todo, e o Mais Você vem amargando um segundão. Ana Maria Braga tem suas qualidades, mas o mesmo prato por mais de década é indigestão na certa.
No setor "noveleiro", dou minhas olhadelas tanto na global Passione quanto em Ribeirão do Tempo, da Record - se tiver que optar, fico com as águas límpidas desta última e largo de vez o visual turvo da ítalo-brasileira.
Em Passione tá tudo muito cinza, muito fechado, desde o cenário : o apto. da Maitê Proença, a "desinfeliz" esposa que se compensa caçando garotões, me dá claustrofobia só de olhar . Até os nomes dos personagens são de discutível escolha. Chamar um Toni Ramos madurão de Totó, é osso duro de roer. Totó gruda bem no universo canino, tanto faz que seja um vira-latas ou um mastiff napolitano - mas em humanos, não orna.
Tem filho desalmado, pedófilo e até avó cafetina das próprias netas - podridão mental que convém mostrar pra orientar, concordo - mas podiam pegar mais leve, a exemplo de Ribeirão do Tempo.
Esta também tem personagem deformado pra chamar de seu, como o filho parricida e o professor matador - mas as cenas não chocam porque não explicitam, sugerem. É novela mesmo, não se esqueceu de sua principal função, que é proporcionar lazer. Quer mais? A logomúsica é tudo. E os atores, ah, os atores! As discussões entre o pintor-bebum e a "madamona" do resort - que se descobriu serem mãe e filho - fazem a gente pensar em como a Globo cochilou, rifando artistas com o carisma de Taumaturgo Ferreira e Jacqueline Laurence.
Ribeirão do Tempo tem tudo que convém a uma pequena cidade: prefeito, delegado, a praça onde tudo acontece, o bar nosso de cada dia e até prostitutas. Atrizes esbanjam talento e beleza, mas a Bianca Rinaldi merece foto, pelo desfile de modelitos em cima do corpo escultural. Há muito não se via na telinha tanta elegância. Um arraso!
E vou ficando por aqui, que não ganho nada da Record pra fazer tanta propaganda, além de um descanso pós-jantar assaz prazeroso.

13 agosto, 2010

Tardou mas chegou

Para quem não sabe: estou em "férias forçadas" da notícia desde outubro de 2004, quando reconheci que minha funda é menos poderosa que a de Davi. O gigante que ousei enfrentar - a máquina tucana local - levou mais uma eleição e dei um basta na circulação do meu jornal.
Aqui não estou "jornalistando" oficialmente, apenas palpitando. Mas não arredo um centímetro de meu compromisso com a Verdade.
Em nome dele, informo que o helicóptero da Polícia Militar já está perfeitamente aterrissado em Rio Preto e, infelizmente, poderá ser visto por aí.
"Infelizmente" porque esse é o típico benefício de que a gente gostaria de abrir mão. Cidade que precisa de patrulha aérea é cidade tomada pela criminalidade.
Não sou lá muito passadista mas tô com saudade da antiga Rio Preto, quando helicóptero só era visto a serviço de Ines Savoia, vereadora e candidata a deputada que se apresentava como a "Colher de Pau". Tinha um heliponto em sua residência, a "chicosa".
Onde pousava o Águia particular, o povão corria ver de perto o "pássaro de ferro". Savoia não chegou a vencer a eleição para a Assembleia paulista, mas que ficou famosa pelo seu material voador de campanha, ficou.
Velhos e bons tempos.

P.S. - Lembrança que tem feito zumzum na minha cuca é a dos programas de auditório da Rádio Rio Preto, onde a atração maior era o pop star da nossa infância, o menino-cantor Carlos Gardim.
Morro de vontade de saber dele. Quem souber, me diga.

15 julho, 2010

Alguém viu um Águia por aí?


Segundo o Diário da Região de 30/6/10, em propaganda oficial no jornal "São José do Rio Preto - Cada Vez Melhor", o Estado afirma que um helicóptero já é utilizado pela Polícia Militar. Esta, entretanto, nega a chegada da aeronave e diz que não há prazo para que isso ocorra.
O Diário constatou também o desperdício de material
distribuído pelo governo do Estado. Para 12 apartamentos, foram entregues 59 exemplares do "jornalzinho".

14 julho, 2010

Vuvuzelas, instrumentos dos anjos


Recebi esta imagem do grupo-lista Beatrice, com a bem-humorada legenda
"Enchendo o saco desde 1660".
O meu, elas podem encher à vontade. Barulho de alegria não me incomoda. As vuvuzelas deveriam ser adotadas aqui e banir de vez os ensurdecedores rojões e bombas (ah, os odiosos morteiros!). Esses, fazem barulho de guerra. E guerra é tudo que a gente não quer.

13 julho, 2010

Bruno ganha a Copa da burrice: monta time paralelo, joga no ataque e faz gol contra


Homão bonito - 1,91 m, altura de jogador de basquete -, sorriso aberto, covinha enfeitando, nada a ver com o tal perfil lombrosiano do assassino, que se ensinava nas escolas (ainda ensinam?).
Bruno Fernandes, 25 anos, ex-goleiro do Flamengo e promessa brasileira para 2014, desde o início da Copa sul-africana não sai dos noticiários, embora não tenha feito parte da seleção do Dunga.
Bruno deu um chute na sorte que estava a lhe sorrir nos últimos anos. Montou um time de "amigos" (quem tem amigos assim, não precisa de inimigos) para jogar contra Eliza Samudio, mãe de Bruno, de apenas 5 meses, que ela tentava na Justiça provar ser filho do craque e, lógico, conseguir pensão alimentícia.
Em vez de show de bola, o craque deu um show de horror.
Como explicar tanta barbárie? Rejeição dos pais? Incapacidade de lidar com o sucesso, más companhias, vida regada a sexo e drogas, na ilusória sensação de ser semideus?
Um pouco de tudo, acrescido da complacência de uma sociedade frouxa, que só se manifesta quando o indesejado já aconteceu. Aí, Inês é morta. No caso, Eliza.
As despesas judiciais vão custar muito mais ao jogador do que pensão alimentícia e parte na herança, direitos que ele tentava driblar. De quebra, já custaram sua imagem: o ídolo festejado virou monstro execrado.
O barato sai caro.

12 julho, 2010

E viva la España!

Do Mascaradona in natura estamos livres. A Alemanha nos salvou do atentado visual, encaçapando 4 bolas na rede dos hermanos.
A Copa de 2010 é da Fúria, a alegre seleção espanhola da foto. Suaram bastante mas pegaram o touro à unha. Um único gol de placa que evitou a decisão por pênaltis e deixou mais uma vez a Holanda no vice-campeonato.
Vitória bem-vinda, ganhou quem nunca teve esse gostinho. A Espanha foi a debutante que levou pra casa o troféu mundial. Olé!

P. S. - Além de vuvuzelas, podemos pensar em receber a Espanha aqui, em 2014, ao som de muitas castanholas. Que tal? Deixe seu palpite.

01 julho, 2010

Socoooorro! Maradona pelado outra vez?


Esta foto de Maradona foi alvo de um dos mais notáveis títulos de matéria do extinto Notícias Populares, jornal que fez história na capital paulista: "Bom de bola, ruim de taco".
A veracidade da "coisa" pode ser constatada na foto ao lado, em comparação com a de Pelé (será também por isso que o aloprado técnico argentino tem tanta inveja do Rei?).
Mais não digo, porque não é preciso. Se a Argentina faturar a Copa, ainda teremos que aguentar o strip tease do hoje gorducho Diego Maradona. Ninguém merece.

12 junho, 2010

Futebol é bola na rede

A foto é atual, mas a historinha longeva. Copa do Mundo de 1982, na Espanha.
Não trouxemos o caneco, foi o ano em que a Itália abateu nossos canarinhos com um só tiro Rossi. Mas o episódio que vou contar rendeu muita risada. Se a memória continua boa, foi no primeiro jogo do Brasil que a coisa se deu. Turma reunida no bem-decorado apartamento de um dos bolinhas da turma, avenida São Luís, centrão nobre de Sampa.
Copa sem bolão não é Copa. Quem tirasse o autor do primeiro gol, papava a grana. Papeizinhos distribuídos, a sorte não agradou ao ex-famoso modelo masculino, acompanhado da também modelo e namorada.
Fez um rosário de reclamações, havia tirado "o jogador mais perna-de-pau, o Dirceu".
"Não sei o que esse cara tá fazendo lá, não devia nem ter sido escalado", repetia.
Tam-tam-tam. Começa a partida, a bola rola e não demora a surgir o primeiro gol do Brasil.
Artilheiro? O perna-de-pau.
O "reclamão", erguendo os braços, deu um pulo que quase foi parar no teto. No meio da alegria geral, um brado mais alto que o de D. Pedro no Ipiranga se ouviu :
"Ê Dirceu, cracão de bola!

04 junho, 2010

Bela, a feia: ao final, linda

Não a assisti todinha, infelizmente. Na sua hora de exibição costumo dar umas treinadas gastronômicas. Mas minha irmã me punha a par dessa adaptação de Gisele Joras, novela Record de maior sucesso entre as crianças, dizem os experts. Apontam as cores vivas e alegres como o "pirulito" que as atraiu.
A elevada audiência - 25% - foi feita também de "velhinhos", só aqui somos duas. Envolveu geral. O "patinho feio" que vira cisne é tema antigo mas sempre sedutor. Remete à fada com seu condão, fazendo a felicidade geral e dando ao mal o lugar merecido.
Acertada mesmo foi a escolha do elenco. A mexicana-brasileira Gisele Itié deve levar prêmio como melhor atriz, do contrário é marmelada. Achou até uma risada horrorosa, bem própria ao estereótipo da feia e desengonçada Bela do primeiro tempo.
Os atores - muitos deles ex-globais - esbanjaram talento. Falo aqui apenas da fada e da bruxa, Simone Spoladore - um pouco caricaturesca na sua interpretação mas deve ter agradado à petizada. O mal já é tão feio em sua essência, dar-lhe contornos mais graves pesaria demais. Talvez por isso, a vilania e o cômico estiveram de mãos dadas. A leveza da malvada Verônica combinou com seu destino: virou uma Xuxa paraguaia, adorada por los pequenitos mas nos bastidores mostra desprezo e até nojo da galerinha (o que será que as apresentadoras mirins acharam disso?).
Se houve um final melhor em novelas, lembranças em minha cuca não ficaram. Elas se despedem deixando uma sensação de que deveria ter sido diferente, de que faltou alguma coisa ou o capítulo foi gravado às pressas. Bela, não. Os personagens deram as caras, não sairam à francesa. Em dança estilo Carlitos chapliniano, os principais atores encerram a história da feia que veio embelezar a telinha dos telespectadores que, como eu, não andam curtindo nadica as maçantes novelas "campeãs"- ultimamente com cheiro de mofo e gosto de ranço.

04 maio, 2010

Toda nudez será castigada? Não em São Paulo

A injustiça sempre me incomoda.
E uma tem cumprido esse papel mais do que qualquer outra: a demissão, pela governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), de recém-nomeada funcionária. Ao vir a público que se tratava de uma ex-stripper, a moça foi defenestreda.
Ô gente, não deu pra entender. Pouco antes, na capital paulista, a subprefeita da Lapa, Soninha Francine (PPS), acabava de posar nua para revista - e continuou em pleno exercício da função (vestida, porém). Função, convenhamos, assaz importante. A pujança de sua subprefeitura supera cidades do interior consideradas de grande porte.
Estranhamente, não vi nota recriminativa na imprensa. Bem ao contrário de quando Francine anunciou em entrevista que fumava maconha, década atrás . Alguma coisa me diz que, fosse a Soninha ainda do PT, os conservadores não estariam assim tão moderninhos.
A repercussão dessa nudez "oficial" teria derrubado a "descolada subprefeita" da nobre cadeira. Fosse a Marta no lugar do Kassab, não ia faltar quem dissesse que a falta de pudor teria sido influência dela, da "patroa" excessivamente liberal. Nem Lula ficaria fora dessa, afinal, qualquer espirro no andar de baixo petista, já dizem que veio da cobertura (a sorte dele é que nele nada cola, tem o "corpo fechado").
Já que a nudez extemporânea emudeceu e imobilizou geral, atrevo-me a dar umas palpitadas.
Não que a Francine tenha agredido com a exibição de seus 42 anos, acho que ainda é uma "brota". A Ioná Magalhães, aos cinquenta e tanto, mostrou tudinho e envergonhou a moçada (Mercedes é Mercedes, não importa a idade. Melhor uma Mercedes usada do que um zero km comum).
Eis o ponto. Ioná é artista, faz parte do mundo das diversões, do onírico. Nele não se exige austeridade, que até atrapalha. O mesmo decote generoso das participantes do Oscar, que confere glamour à festa, pode significar demissão na certa, se transportado para o trabalho comum (e público). O jornalista Alexandre Garcia que o diga, posou para revista em trajes maiores que Soninha (usando uma toalha, se me lembro), e lá se foi o cargo de assessor de imprensa do governo Figueiredo.
Com invulgar sabedoria, Chacrinha dizia que "a vida não é aquela cuja a gente vive a qual". Vida de celebridade é bem diferente da "normalidade".
Não se trata de moralismo ou de atraso. Apenas traduzo o pensar de que tudo tem lugar, hora e roupa adequada - principalmente quando se for dispensar o uso dela.
E também gostaria de encontrar uma resposta para as diferentes posições, a adotada pelo Pará e a não-adotada por São Paulo. Sem nenhuma crítica à atitude da governadora petista, que não titubeou em fazer uso da caneta para demitir a ex-stripper. Mas pra que tanta rigidez?
Se em São Paulo cargo público de chefia pode ser exercido por Cicciolinas, não vejo impedimento algum a que uma ex-stripper desenvolva atividade subalterna no funcionalismo paraense. O que vale lá, deve valer também cá.
Ou quem pertence às fileiras do PSDB serrista pode mais?

29 abril, 2010

Quem são os civilizados, cara-pálida?


Abril vai se fechando e deixei passar "em branco" o Dia do Índio, 19.
Mas curti à beça, aqui de longe, a festança da comunidade indígena com o presidente dos brasileiros, Luiz Inácio Lula da Silva, na Reserva Raposa Terra do Sol, em Roraima. Embora muitos se esforcem para provar o contrário, os índios são brasileiros e até mais do que nós, se considerarmos o critério de antiguidade.
Lula me fez rir gostosamente com mais uma de suas geniais "tiradas". Papel numa das mãos e vários noutra, o presidente disse: "Esses índios não são mais bobos, não, são sabidos! Me deram um papel agradecendo e vinte pedindo."
Foi das poucas matérias do telejornalismo que fazem bem à alma, o resto é quase todo um festival de inutilidades e maldades. Até da natureza que, cansada de tanta provocação, lança sua fúria ora por terra, ora por água.
Denúncias de pedofilia e maus-tratos à infância continuam a jorrar, com requintes de perversidade não encontrados nem na literatura. Caso mais chocante e ainda repercutindo na telinha, o da procuradora de Justiça que adotou uma criança de apenas 2 anos.
Crianças precisam de amor e cuidados, apenas isto. Mas "douta e insuspeita" cidadã, tão logo obteve a guarda provisória, pôs em prática o verdadeiro objetivo que a levou a adotar: fazer da criança um saco de pancadas onde descarregar sua fúria bestial. O cenário, um elegante apartamento em zona nobre do Rio de Janeiro.
O show de horror durou um mês - um mês de tortura não é pouco, ainda mais para um bebê - , até a criança ser retirada por conselheiros tutelares, acionados por ex-empregadas da megera. Além de inchaços e hematomas confirmados pela pequena vitíma como feitos pela "mamãe", a denúncia foi robustecida por áudio onde é identificável a voz da psicopata doméstica. Psicopata travestida de "exemplar representante da Justiça".
Você, eu, meu vizinho, seu vizinho, todos temos que estar alertas e dispostos a botar a boca no trombone, a uma simples suspeita de abuso infantil. Das frases melhores que já ouvi sobre o assunto, foi da atriz e poetisa Elisa Lucinda: "Criança é assunto do Mundo".
E onde entra o índio, que tem até foto ilustrativa nesta matéria?
Segundo sei - pouco mas suficiente - , a comunidade indígena é considerada modelo em relações sociais. Uma índia toma conta de todas as crianças, não apenas dos seus filhos, enquanto as demais trabalham. Os índios não batem e se abaixam para conversar com os pequeninos. Nunca leram livros psicopedagógicos, mas sacaram que o próprio tamanho do adulto já é assustador, diante de seres em desenvolvimento. Colocam-se então no mesmo plano.
Coisa bonita!
Desconfio que, para afastar a brutalidade dos civilizados, teremos que incluir no currículo escolar a aprendizagem das técnicas indígenas - "incivilizadas".
Tem razão o presidente Lula, os índios são sabidos sim.
Pescam e caçam, suas presas não são suas crianças.

26 março, 2010

A realeza e a vida noturna de Sampa

Aproveito a mais recente visita de nossa rainha Sílvia da Suécia e o Rei Gustavo e transcrevo crônica publicada no jornal Realidade em abril de 2002:

Era rico e bonitão, presidente de um dos maiores grupos de minérios do País. Mas muito chato. Nem a Mercedes branca com motorista alinhadérrimo conseguia fazer dele uma companhia agradável. Levou-nos à discoteca da moda, Ta Matete, em São Paulo, para seu amigo matar saudades do Brasil, residia há tempos nos Estados Unidos.
No dia seguinte lá vem ele, querendo arrastar a gente pro mesmo lugar. Além de chato, sofria de falta de imaginação. Insistimos para que nos levasse ao Via Brazil (com z mesmo), casa da melhor música brasileira ao vivo. Poxa, música tecno, em inglês, seu amigo tá cansado de curtir lá nos States, dizíamos. O chato só sabia retrucar que "lá não era ambiente".
Ué, eu pensava, todas as vezes que fui, encontrei o Chiquinho Scarpa e sua troupe. O que será que esse cara viu de mal no lugar?
Conseguimos vencer a resistência do metido, mas ele se fechou em copas, fez cara feia, foi bem desagradável. Nem demos bola, tratamos de dançar à volta das mesas, o som tava o máximo! A certa altura, uma loura foi conversar com nosso anfitrião e, ao se ver livre, ele diz: "Não falei que aqui não é ambiente?"
"Não vi nada de mais nela. Só se você a conhece de algum local proibido. Aliás, as mulheres que estão aqui, pra mim, são todas distintas senhoras", respondi.
De repente, irrompem os seguranças no salão e começam a ajeitar mesas para um cliente. Devia ser algum figurão até mais importante que o Chiquinho, pra provocar tamanho rebuliço.
E como era! Ninguém menos que o rei Gustavo da Suécia com sua rainha Sílvia e comitiva. Sílvia é a brasileira, mas o rei levava mais jeito no samba.
Não preciso dizer com que cara ficou o chato ao meu lado. Deu até dó, mas não contive a observação: "Que esquisito, aqui não é ambiente pra nós, mas é para o rei Gustavo e a rainha Sílvia?"
Também não preciso dizer que o cara sumiu, nunca mais estacionou sua Mercedes em minha porta. Achei ótimo.

14 março, 2010

Santa sabedoria

Até ontem refratária à internet, já tenho até comunidade. É de lá que a carioquíssima Maria Lúcia me cutuca para que eu saia da preguiça e ponha o "verdinho" a funcionar, começando por coisas e gente de Guapiaçu. Esta eu mato com uma só cajadada, basta falar na "mulher do cabo", a dona Santa. Que virou amiga da família assim que trocamos a capital regional, São José do Rio Preto, por esse "ramal" aqui.
Santa era "sacudida", fortes braços, peitos que acalentam o mundo. Pau pra qualquer obra. Na varanda adaptou uma fabriqueta de mandioca, pra ajudar a tocar a vidinha humilde (militar já devia ser mal-remunerado naqueles anos de ditadura). O microempresariado fundo de quintal não a impedia de receber a gente com calor humano, sorriso largo e disposição pra papear - sobre qualquer coisa, era mente aberta.
Um belo dia, novidade. No terreno da esquina instala-se um circo que tinha como atração principal um professor-hipnotizador. O "astro" e sua mulher alugam casa bem na frente da de Santa, banheiro pra fora, porta com fechadura quebrada. Os "anjinhos" da Santa descobrem e se deliciam a buraquear os banhos da nova moradora, até que o circense lhes dá um flagra. Santa ouve berros, sai pra rua e o homem grita para que ela "dê um jeito nesses moleques, senão vai ver só o que vou fazer".
Santa pega os dois pelas camisas, leva pra perto do homem: "Vai fazer o quê? Então faça, se tiver coragem". O valentão corre pra dentro da casa e volta com um revólver na mão. A essa altura, a rua tranquila já tinha expectadores.
Santa manda que os filhos entrem e parte para o confronto: "Tá pensando que tenho medo disso aí? Tem vários em casa e minha mãe me acordava com um desses na mão. Te dou um minuto. Se não sumir com esse troço da minha frente, eu vou tomar de você e adivinhe o que vou fazer". O homem achou melhor obedecer.
Certa noite, Santa acorda com gritos terríveis. Dá uma cotovelada mas não encontra o marido. O fuzuê era porque o vizinho o surpreendera com sua mulher e queria matá-la. A danada só se safou porque Santa a recolheu em casa. Ao ouvir a história, minha mãe diz que mulher nenhuma salvaria a "outra", ela era santa não só no nome.
Na maior naturalidade, Santa explica: "Ué, Geisha, tá certo que ela tava com meu marido, né, mas nem por isso precisa morrer, coitadinha!"
Tantos códigos, tantos tratados, tantas jurisprudências, e raro ver a aplicação correta da Justiça. Balança que Santa manipulava com facilidade, sendo quase analfabeta.
Quase analfabeta e totalmente sábia.

P.S. - Santa só não venceu o câncer, que a levou em 88, em São Paulo. Por sorte, eu estava na Argentina. Despedir de quem foi mãe por afeto e afinidade deve aumentar a dor da perda. Mas como ela mesma dizia diante da mais dramática situação, "a gente encara". Santa.

06 março, 2010

Olha o Cara aqui, gente!
























Nessa eu cheguei tarde, o presidente-orgulho dos brasileiros já havia passado por aqui quase uma década antes. Esta foto foi destaque em outubro de 2003.
Era ano da estreia de Lula ao comando da gigantesca nau brasileira e eu ainda conseguia manter meu barquinho em movimento, remando contra as águas revoltas do tucanato local. O Realidade, distribuição gratuita e circulação mensal, não tinha o ineditismo da notícia, como todo pequeno jornal de interior - salvo se o fato eclodia quando estava prestes a ir para a gráfica. Reportagens, entrevistas, colunas e retrospectiva dos acontecimentos - tanto daqui quanto desse mundão afora -, eram compensados com comentário. Jornalismo opinativo, vibrante e de ouvido colado no povo, para não lesar a Verdade. E conseguimos.
O que nos dá essa certeza é que, nos seus cinco anos de funcionamento, não caímos na simpatia dos políticos, tanto governistas quanto de oposição. Sempre tiveram "um pé atrás" conosco e nunca hesitaram em colocar seus pés à nossa frente, para nos dar rasteira. Tanto colocaram que fomos ao chão. Nossos anunciantes debandaram, para não terem prejudicadas suas relações com a prefeitura, e os poucos corajosos a permanecer no barco não geravam receita à altura das despesas. Levamos no vermelho por bom tempo, até que demos um brake para não atolar ainda mais em dívidas.
De vez em quando vou reproduzir alguma coisa , para que os visitantes deste blog tenham ideia da asfixia imposta a quem ousa contrariar a democradura.
Mais tem Deus pra dar, que o diabo pra tomar. Descobri a internet e tô aqui, palpitando e feliz da vida.