21 setembro, 2010

Faz de conta que eu não bebo

Em entrevista à CNT, José Serra (PSDB) mostrou toda sua vocação democrática e respeito profundo à liberdade de imprensa. Melindrado com certas perguntas da jornalista Márcia Peltier, botou a Dilma no meio da conversa (novidade!), mandando que dirigissem as mesmas perguntas a ela (ouviu que assim seria feito). Por fim, comunicou que não iria mais dar entrevista. Com a habitual elegância, Peltier fez ver ao presidenciável que não teria como explicar o cancelamento da entrevista, ao que Serra respondeu: "Faz de conta que não vim".
A jornalista chegou a desligar as luzes e continuou tentando domar o "touro" bravio. Missão cumprida e câmeras religadas, a equipe da CNT pode concluir o trabalho com o candidato que "dá trabalho".
Serra evita passar ao público a imagem de pessoa comum. Uísque ele não toma, nem do Paraguai nem qualquer outro, disse para Sabrina Sato, do Pânico. E escolheu depressinha o guaraná, ao ser indagado sobre sua bebida preferida.
Eu já tinha deduzido que álcool, pro Serra, nem em dia de Palmeiras campeão. Além de antitabagista furioso, abstêmio radical, pensei .
Mas um chopinho em Rio Preto, após a campanha, ele não rejeitou. Certamente pra não ser chamado (por trás, lógico, que ninguém é kamikase) de chato ou desmancha-roda.
Agora, cá pra nois: ele parece estar à vontade, não leva jeito de marinheiro de primeira viagem.
O interessante é que foi só a Dilma aparecer de pé engessado e explicar que sofreu uma torcedura ao fazer esteira, a grande imprensa já tascou que teria sido decorrência de um vinho tomado na companhia de amigos. Traduzindo: Dilma bebe a ponto de cair. Na linguagem da Hebe, Dilma é da "manguaça".
O intrigante é que já vi no Tijolaço, o saboroso site do deputado Brizola Neto, foto reproduzida de O Globo mostrando o Serra amparado por correligonários, ao subir uma escada rolante. E com o semblante daquele jeito que, no popular, é descrito como "cara de ressaca". Mas não consegui achar, nem nas entrelinhas da grande imprensa, uma só mensagem de que José Serra possa ter exagerado no chope.
Ah, que perda de tempo a minha, ficar tentando descobrir o porquê. Zé Serra "hipnotiza" os poderes que, por salário ou prestação de serviços, se "comunicam" com o governo paulista.
O homem-tucano não é mesmo, uma pessoa comum.
É alguém com extraordinários poderes.

14 setembro, 2010

Pela igualdade de tratamento midiático


A questão que levanto aqui não é o lado político, mas o antiprofissionalismo com que alguns setores da mídia vêm tratando a candidata Dilma Rousseff. Duas coisas me impeliram a abordar este assunto: primeiro, que sou mulher, e segundo, não suporto injustiça.
Mas o que vem a ser isso que eu assisti na Rede Globo e no SBT? Nomes consagrados como Willian Bonner e Carlos Nascimento caindo na misoginia e machismo explícitos, em programas que pretendem chamar de entrevista ? Interrogatório seria mais apropriado.
Não bastasse o tom inamistoso das perguntas, o global parecia querer avançar na petista. Mais um pouco e abocanha sua jugular.
Um Bonner exatamente inverso, verdadeiro fidalgo, foi o que se apresentou diante do candidato tucano, a ponto de a entrevista ficar conhecida como "me perdoe". Seu ex-colega e hoje empregado do homem do Baú, Carlos Nascimento, não deixou por menos. Abriu a sessão "pancadaria nas Lulus" com uma delicadeza de king kong, mencionando as transformações físicas na imagem de Dilma (que, diga-se de passagem, tiveram um resultado pra lá de ótimo. A ministra ficou muito mais bonita e radiante, sem qualquer sinal de plástica. Ainda vou descobrir a receita, ah, se vou!).
Como sempre fui chegada num duelo mental, poucas performances de políticos deixei de ver na telinha. Faço isso desde época em que a seara era mais fértil, podia-se varar a madrugada assistindo programas como o do Ferreira Neto e o Jogo de Cartas, do Mino. A política não ficava restrita aos telejornais, a mesclar notícias com convidados - e essa mistura não foi legal.
Pois do muito que assisti, só um apresentador foi inconveniente: o Ney Gonçalves Dias, querendo arrancar de Quércia a confissão de que pintava os cabelos (ele negava, óbvio, e Ney insistia). Até telespectadores da "mão contrária", críticos do quercismo, desaprovaram a grosseria. Maus modos ninguém aprecia.
Entrando na campanha do dia, também não tenho notícia de que algum "jornalista" tenha indagado a José Serra sobre a flagrante intervenção cirúrgica nas gengivas e "cositas mas" - não falo pra não incorrer em descortesias do mesmo tipo. E também porque, sejamos justos, a aparência ou gesto pouco asseado quase nada interfere no âmbito político.
Tanto bateram que conseguiram tirar da candidata pole position o rótulo de "Lula de chicote", a ministra-chefe da Casa Civil cuja exigência já fizera até ministro chorar (cá pra nós, conversa de inimigo. Homem nenhum é sensível a esse ponto).
Dilma Rousseff virou vítima, e não sem razão. Alvo de ataques virulentos diante das câmeras, ela suportou heroicamente, mostrando-se bem-educada, esbanjando civilidade. Firme, mas dentro da polidez. A história de vida de Dilma, além de ter sido mantida presa quase o dobro do tempo determinado, inclui períodos de tortura durante o regime de exceção - e ela nem chegou a participar de luta armada. Alguns ex-guerrilheiros homens, que assaltaram e sequestraram, nunca enfrentaram os rigores militares, porque conseguiram escafeder-se para o exílio numa "nice". Só retornaram ao País na condição de anistiados - livres, leves e soltos. Entretanto, não abrem mão do díscurso "vítimas da ditadura".
Dilma não. Essa mulher guerreira não faz uso de seu passado para angariar aprovação, recusa o papel de eterna coitada. E em lugar de reconhecerem sua grandeza, os midiáticos submetem-na mais uma vez à tortura. Desta feita, de ordem moral e em "praça pública".
Não gostei. E muita gente também não. Mulheres com dignidade, mais ainda.
Se eu já não tivesse dilmado - decisão tomada depois de garimpar à exaustão o currículo dos candidatos - minha adesão teria sido imediata, ao ver os "machos selvagens" do telejornalismo em cena.
Faz isso não, seu Bonner. O senhor também, seu Nascimento. Idem para os demais coleguinhas que andaram formulando as mesmas indelicadas perguntas à "Senhora D" (Senhora Democracia, segundo dona Lily Marinho em almoço exclusivo oferecido à petista ). Esses foram frustados na tentativa de nocautear a indicada de Lula, Dilma faltou ao "debate". (ficaram na vontade, bem feito!).
Respeitem as Lulus, ajam como respeitáveis Bolinhas. A gente não quer tratamento privilegiado, se prevalecer de que é considerada sexo frágil, nada disso.
Quer apenas que nossas representantes, candidatas a cargos políticos, sejam tratadas com a mesma urbanidade que dispensam aos cavalheiros.
É pedir muito?

06 setembro, 2010

Sou mais Brasil


Duas notícias de hoje indicam que o império global tá bambeando na liderança: ontem foi o primeiro domingo em que a Record ocupou a pole position o dia todo, e o Mais Você vem amargando um segundão. Ana Maria Braga tem suas qualidades, mas o mesmo prato por mais de década é indigestão na certa.
No setor "noveleiro", dou minhas olhadelas tanto na global Passione quanto em Ribeirão do Tempo, da Record - se tiver que optar, fico com as águas límpidas desta última e largo de vez o visual turvo da ítalo-brasileira.
Em Passione tá tudo muito cinza, muito fechado, desde o cenário : o apto. da Maitê Proença, a "desinfeliz" esposa que se compensa caçando garotões, me dá claustrofobia só de olhar . Até os nomes dos personagens são de discutível escolha. Chamar um Toni Ramos madurão de Totó, é osso duro de roer. Totó gruda bem no universo canino, tanto faz que seja um vira-latas ou um mastiff napolitano - mas em humanos, não orna.
Tem filho desalmado, pedófilo e até avó cafetina das próprias netas - podridão mental que convém mostrar pra orientar, concordo - mas podiam pegar mais leve, a exemplo de Ribeirão do Tempo.
Esta também tem personagem deformado pra chamar de seu, como o filho parricida e o professor matador - mas as cenas não chocam porque não explicitam, sugerem. É novela mesmo, não se esqueceu de sua principal função, que é proporcionar lazer. Quer mais? A logomúsica é tudo. E os atores, ah, os atores! As discussões entre o pintor-bebum e a "madamona" do resort - que se descobriu serem mãe e filho - fazem a gente pensar em como a Globo cochilou, rifando artistas com o carisma de Taumaturgo Ferreira e Jacqueline Laurence.
Ribeirão do Tempo tem tudo que convém a uma pequena cidade: prefeito, delegado, a praça onde tudo acontece, o bar nosso de cada dia e até prostitutas. Atrizes esbanjam talento e beleza, mas a Bianca Rinaldi merece foto, pelo desfile de modelitos em cima do corpo escultural. Há muito não se via na telinha tanta elegância. Um arraso!
E vou ficando por aqui, que não ganho nada da Record pra fazer tanta propaganda, além de um descanso pós-jantar assaz prazeroso.