01 outubro, 2009

Não Dá Pra Imprimir, A Gente Tecla

Você já deve ter visto, no perfil, que fui corretora. Faltou dizer: de imóveis, por duas décadas, em São Paulo. Antes, professora interiorana de pré-primário (delícia, lidar com crianças) que, formada em Letras pela gloriosa universidade de Poços de Caldas (meio mineira, uai), desembarcou na capital paulista para se especializar em Linguística e lecionar português. Não deu, só abocanhava aulas quem já estava dentro. Magistério era profissão cobiçada, acredite .
Larguei mão. O acaso me fez cruzar com um engenheiro e general aposentado, fui secretariá-lo num sindicato e na Faculdade de Saúde Pública, onde era professor. Através dele conheci a Fundacentro (segurança, higiene e medicina do trabalho), coordenava cursos Brasil afora e editava suas publicações. Sem saber, já estava "jornalistando". Isso por 3 anos, enquanto a entidade - semipública - foi dirigida por general (que não tinha nada a ver com a figura de bicho-papão que a esquerda lamuriosa pinta até hoje. Generalizar é quase sempre injusto, veja matéria abaixo). Ainda na saúde ocupacional (viu que chique o termo?), ingressei por concurso na Secretaria do Trabalho mas fiquei pouco, abri mão da estabilidade para correr atrás de ganhos maiores.
Chegava eu ao glamouroso mundo das mansões milionárias e das pessoas muito interessantes, a corretagem de imóveis. Quem quiser conferir é só "assuntar", mesmo fora de São Paulo há dez anos, ainda sou lembrada (fui boa nisso!).
Como virei jornalista? Explico: na solteirice em que vivia, altas madrugas nos "maria cebola" de Sampa, pintou a AIDS no horizonte e fui fazer FIAM à noite, com uma "sobrinhada" linda à volta (não tenho vocação para pedófila. Colega tão bonito por dentro quanto por fora foi ninguém menos que o ator Fábio Assunção). Com essa mudança de rota, garanti também o diploma para escrever profissionalmente, no dia em que cansasse de vender pros ricos. E esse dia chegou mais cedo do que eu pensava.
Pronto, parada final. Vim passar uns tempos aqui, Guapiaçu, cidade bem próxima de Rio Preto - de onde sou nativa - pra revisar a "máquina" (operei miopia, zerei os nove graus e hoje enxergo feito lince). Um amigo montou o jornal Realidade, fui jornalista responsável. Tempos depois ele quis vender, deu pra comprar - com a ajuda de minhas irmãs - e fui tocando. Até outubro de 2004, quando, vencida pela perseguição de "otoridades" melindradas com a verdade, matéria-prima do Realidade, paralisei sua circulação. Eis por que o título: não dá pra imprimir, a
gente tecla.
Bem-vindo ao JORNAL DA GEYSA. E se quiser comentar, a gente até gosta.
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NOS TEMPOS DA DITADURA: o general democrata e o caso Herzog
Inimigo número um da verdade, o maniqueísmo continua firme e forte a rotular os que estão de um lado de excelsas criaturas, e seus contrários de representantes do mal. Fui refém dessa "praga" até trabalhar com militares da reserva e, pasme, ouvir críticas contundentes aos excessos da ditadura e conhecer uma decência raramente vista em civis.
Começo falando de um ex-chefe, general Moacyr Gaya. Delegado regional do Trabalho em São Paulo, entregou o cargo quando foi editado o AI-5 (a partir daí, teria que dar satisfação de todos seus atos ao 2o Exército e isso o horrorizava). Assumiu a superintendência da recém-criada Fundacentro e negou-se a receber o salário estipulado, alegando que o máximo admissivel seria um terço abaixo. Não tenho outro exemplo desse pra dar, nunca soube que alguém tenha "reclamado pra baixo".
Gaya tinha outra rara característica: odiava honrarias, que pra ele eram puxassaquismo. Imagine que certa noite de formatura, no Clube Português, o coordenador do curso - em convênio com a Fundacentro - perfilhou elogios a ele em seu discurso, principalmente por trabalhar bem mais do que deveria (e trabalhava mesmo, não era raro, ao começar o expediente, encontrarmos bilhetinhos sobre as mesas: o general já "estava na ativa"). Fosse ele qualquer político, agradeceria inflado de orgulho. Sabem o que general respondeu? Que não havia razão alguma para que o elogiassem, porque não fazia mais do que a obrigação, e que " era muito bem pago para isso".
Demagogia e ostentação não eram com ele. Veja isso: realizamos um congresso no Anhembi, o CONPAC, e ele ficou na platéia, não houve quem o convencesse a ocupar lugar ao lado do então presidente da república, o generalíssimo Geisel.
Taxar o militar de burro ou iletrado, tal como é feito em relação aos portugueses, é mania antiga. Ah é, é? Foi com o general Gaya que aprendi que o ato de aguardar é feminino, erro frequentemente cometido até por jornalistas renomados (você não está "no aguardo", mas na aguarda da prova cabal de que um militar de alta patente, durante os "anos de chumbo", pode ter sido muito mais democrata do que civis de hoje). E também muito mais comportado que patrões "sem farda". Nunca vi o general tocar nas funcionárias nem nunca soube (e olhe que sempre fui antenada) que tenha "cantado" alguma, por mais bonita que fosse. Assédio sexual foi o que mais vi, posteriormente, nas "chefias". Mas abusar do cargo para tirar vantagem, decididamente, não era com o general Gaya.
Já desligados da entidade - todos vítimas do novo superintendente, um déspota civil - , nos reunimos em meu apartamento. Surgiu o assunto Harry Shibata, o diretor do IML e autor da famosa assinatura do laudo Herzog. Gaya foi implacável, para ele Shibata deveria ser penalizado porque "foi conivente com esses assassinos".
De nada adiantou tentarmos justificar o ato de Shibata, figura simpaticíssima que lecionava Pneumocologia e Ergonomia nos cursos da Fundacentro. Afinal, dizíamos, se Shibata se recusasse, o cargo dele iria a prêmio. Quem, no lugar dele, teria tido a coragem de atestar contra a ditadura? Esforço inútil. Para o general Moacyr Gaya, Shibata não tinha perdão.
Suas ideias libertárias contrastavam com a aparência linha-dura e vozeirão assustador. Mas não tardava a reconhecer o esforço de todos, acabando por exibir a beleza de sua alma e o enorme coração.
Tomei outro rumo e perdi o contato com o pessoal. Fazia compras num supermercado d quando o rádio anunciou a morte do general. Não fui me despedir, evito funerais porque dou vexame, pareço carpideira, choro mais que a viúva (e a bela equatoriana Elza poderia pensar que houve o que não houve). Não sei onde andam ela e o filho Moacyrzinho. Imagino o que já passaram, por conta desse preconceito besta de que todo militar da ditadura é assassino ou torturador.
Taí: generalizar é quase sempre injusto e muitos devem concordar, mas são poucos a aplicar.

3 comentários:

  1. Gê, amei : " não dá pra imprimir, a gente tecla" kkk Começou bem Moça Valente!Beijão! Silvia dantas

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  2. Geysa
    Achei vc. nesse seu super-confortável e acolhedor blog verdinho!
    O principal vc. já fez: deu início, colocou mãos à obra e publicou dois textos que demonstram claramente que vc tem muito - mas muito mesmo! - talento.
    Esbanja charme no texto! Tem estilo e pensa com originalidade e independência!
    Agora, aos poucos vc irá descobrindo o seu jeito de usar os mil recursos e marcando o seu espaço.
    Mas do jeito que está a parte visual do blog, no básico, já dá para cair no trecho!
    A hora é já!
    Tudo de ótimo para vc!
    Votos de sucesso com o maior carinho meu e aplausos da netaiada!
    Maria Lucia ( lá da aguerrida e simpática comunidade do Tijolaço)

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  3. Olha eu aqui de novo!
    Não estou querendo abusar daquela santa pessoa que é o nosso anfitrião lá no Tijolaço.
    Lá já tem aquela zoeira daquele povo que se diz do partido da acima referida santa pessoa e faz aquela pressão em cima do coitado para que ele faça sei lá bem o que. Até hoje não entendi o porquê profundo do conflito!
    Fabriqueta de caleidoscópios? É um sonho que trago na cabeça,há muitos e muitos anos,quando ainda criança ganhei um caleidoscópio de madeira muito fofo que tenho até hoje.
    Depois durante a vida afora,andei catando caleis algures e alhures nesse mundão desabotinado.E coletando dados sobre como fabricá-los.É bem fácil.Mas exige que a gente tenha um espacinho-atelier para dispor os elementos,fazer os protótipos etc.É um sonho. Temos que tê-los sempre,não é mesmo?
    Lá no Vi o Mundo e no Nassif encontro seus animados comentários e também da Beatrice.Eta trinca do barulho!
    A gente se encontra pelos blogs da vida.
    Bjs.
    MLucia

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