04 maio, 2010

Toda nudez será castigada? Não em São Paulo

A injustiça sempre me incomoda.
E uma tem cumprido esse papel mais do que qualquer outra: a demissão, pela governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), de recém-nomeada funcionária. Ao vir a público que se tratava de uma ex-stripper, a moça foi defenestreda.
Ô gente, não deu pra entender. Pouco antes, na capital paulista, a subprefeita da Lapa, Soninha Francine (PPS), acabava de posar nua para revista - e continuou em pleno exercício da função (vestida, porém). Função, convenhamos, assaz importante. A pujança de sua subprefeitura supera cidades do interior consideradas de grande porte.
Estranhamente, não vi nota recriminativa na imprensa. Bem ao contrário de quando Francine anunciou em entrevista que fumava maconha, década atrás . Alguma coisa me diz que, fosse a Soninha ainda do PT, os conservadores não estariam assim tão moderninhos.
A repercussão dessa nudez "oficial" teria derrubado a "descolada subprefeita" da nobre cadeira. Fosse a Marta no lugar do Kassab, não ia faltar quem dissesse que a falta de pudor teria sido influência dela, da "patroa" excessivamente liberal. Nem Lula ficaria fora dessa, afinal, qualquer espirro no andar de baixo petista, já dizem que veio da cobertura (a sorte dele é que nele nada cola, tem o "corpo fechado").
Já que a nudez extemporânea emudeceu e imobilizou geral, atrevo-me a dar umas palpitadas.
Não que a Francine tenha agredido com a exibição de seus 42 anos, acho que ainda é uma "brota". A Ioná Magalhães, aos cinquenta e tanto, mostrou tudinho e envergonhou a moçada (Mercedes é Mercedes, não importa a idade. Melhor uma Mercedes usada do que um zero km comum).
Eis o ponto. Ioná é artista, faz parte do mundo das diversões, do onírico. Nele não se exige austeridade, que até atrapalha. O mesmo decote generoso das participantes do Oscar, que confere glamour à festa, pode significar demissão na certa, se transportado para o trabalho comum (e público). O jornalista Alexandre Garcia que o diga, posou para revista em trajes maiores que Soninha (usando uma toalha, se me lembro), e lá se foi o cargo de assessor de imprensa do governo Figueiredo.
Com invulgar sabedoria, Chacrinha dizia que "a vida não é aquela cuja a gente vive a qual". Vida de celebridade é bem diferente da "normalidade".
Não se trata de moralismo ou de atraso. Apenas traduzo o pensar de que tudo tem lugar, hora e roupa adequada - principalmente quando se for dispensar o uso dela.
E também gostaria de encontrar uma resposta para as diferentes posições, a adotada pelo Pará e a não-adotada por São Paulo. Sem nenhuma crítica à atitude da governadora petista, que não titubeou em fazer uso da caneta para demitir a ex-stripper. Mas pra que tanta rigidez?
Se em São Paulo cargo público de chefia pode ser exercido por Cicciolinas, não vejo impedimento algum a que uma ex-stripper desenvolva atividade subalterna no funcionalismo paraense. O que vale lá, deve valer também cá.
Ou quem pertence às fileiras do PSDB serrista pode mais?

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